Boi da Manta de Capim Branco – época de lembranças e histórias

Fim de janeiro e aqui pelo Circuito das Grutas já era época de Boi da Manta. Animação, festança, fantasia, história… Esse ano, por tudo o que o país tem passado, não teremos a manifestação em nenhum município, mas temos lembranças e esperança de no próximo janeiro, o Boi sair por aí alegrando nossa vida!

Falar sobre o Boi da Manta de Capim Branco é antes de tudo, falar de paixão, falar de amor e falar de tradição. É falar da história da cidade com todos os seus personagens e causos. É falar de carnaval, de alegria, de paz, de diversão, de cultura, de espera. De preparação, de amizade, de tardes divertidas e do orgulho em pertencer.

Um orgulho imenso que cada personagem que participa ou participou do Boi em algum momento, traz no olhar quando abre o baú da memória.

Antes de tudo é preciso deixar claro que o Boi da Manta, ultrapassa o boi. Talvez para quem desconheça a história, o Boi da Manta seja um Boi caricato, com uma estrutura de bambu, uma cabeça, chifres e tecidos coloridos. A representação de um boi. Mas não. Esse é o importante personagem que carrega consigo um sem fim de histórias e tradição. O Boi da Manta de Capim Branco é todos os capim-branquenses. Apesar de ter hora e dia marcado para sair, o Boi é todo o carnaval, é toda a folia, é toda a diversão. É todos os grupos fantasiados. O Boi é fantasia. O Boi é sonho. É alegria. O Boi é a criançada que o acompanha. É o adulto que se enfeita. É a concentração antes da saída. É a costureira que corta e costura a fantasia do bloco. É as indumentárias bem elaboradas ou é aquela roupa da avó ou da tia que alguém pegou no armário prá se vestir de mulher. É só uma flor na cabeça. É o palhaço que combina a roupa com o boneco. É o personagem da TV e é até o Pato do Gê de Carlindo.

O Boi da Manta definitivamente é um sem fim de coisas boas.

E é uma tradição bem antiga, que remota pela década de 30. Com Seu Avelino e Guaraná. Levindo que buscava barro prá fazer a cara dos bonecões, a turma do Lúcio Flores que se reunia no Centro. Até que parou. Terminou tudo. 

Mas o Boi não morreu. Definitivamente. Até porque, o Boi não vai morrer nunca. Pode se cansar, parar um tempo, mas depois volta… imponente, divertido, correndo atrás dos outros. E foi assim que o Boi acordou, de repente, numa manhã de uma segunda de Carnaval.

Bolivár e Nozico dão de aparecer na casa do Sirinho e resolvem, por eles, que o Boi haveria de sair naquele dia. Era hora de ressuscitar o bicho e toda a sua história. Sirinho deu uma apavorada no início da conversa, mas logo topou a empreitada e à tarde lá estavam eles: com o Boi pronto. Foi pegar os panos do cinema do Salão Bolivár, ajeitar a cabeça com um gancho e pronto. O Boi acordou, saiu de novo e nunca mais parou. E ele voltou desafiador… 

No ano seguinte já tinham até o toureiros. O Boi saia lá debaixo, o povo segurava a corda, formava a arena e pronto: entravam os toureiros para brincar e tourear o boi. E ele era bravo, corria atrás das crianças, dos meninos… há quem morresse de medo do Boi. Mas era mais alegre enfrentar o medo e estar lá que ficar em casa sem participar da folia. 

A Banda das Velhas Virgens saia com zabumba, tarol e a sanfona do Afonso Careta que ajudava a turma a fazer o som da festa.

E a turma fiel do Boi além de todos os fantasiados, sempre foram os Bonecões. Esse casal gigante passou a ser feito pelo Caetano com toda a técnica herdada do seu pai, Seu Levindo, que ia lá no Ribeirão tirava a argila, fazia o molde da cabeça, deixava secar e com o grude ia colando jornal. Aí retirava a máscara que era pintada e fixada no corpo. O tempo passou, as técnicas mudaram, mas os Bonecões até casaram, oficialmente em um carnaval e logo depois a família cresceu e está mais unida do que nunca, marcando presença em todos os carnavais.

Antigamente, um mês antes do carnaval a festa já começava. Religiosamente todos os domingos saia o Boi, a charanga, os bonecos, os mascarados e a alegria.

Sirinho era o guardião dele. Foi ele que o trouxe de volta lá naquela segunda feira e quem o conduziu, brilhantemente até o seu último carnaval. Em 2016 Sirinho se foi. Mas de tão forte, alegre e especial que era, deixou a tradição que permanece viva.

Pra ele e por ele. O Boi e tudo que vem junto com ele não vai morrer nunca. Pode até descansar um ano ou dois, sair menos animado uma hora ou outra, depois se apruma de novo e segue em frente.

Porque o Boi é isso: é o renascimento da esperança, da energia e da vitalidade a cada começo do ano. Esse Boi da Manta, desse jeito, nesse formato, com essa energia… é de Capim Branco. É no Boi que a cidade cria forças para romper bem o ano que se inicia. É na folia, na alegria, na descontração, na paz e na tradição popular que a cidade se alegra e segue, a cada ano, firme na certeza de que o ano será maravilhoso e que o ano seguinte, após o Boi da Manta, será ainda melhor!

Ah… um dia, um menino pediu Sirinho prá fazer um boizinho prá ele. E em 1992, nasce o primeiro Boizinho dos muitos que viriam logo adiante. É a vida e a tradição se renovando.

Ê boi!

 

Por Narly Simões



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