Falar de Clara Nunes é falar da música brasileira já que ela foi considerada uma das maiores e melhores intérpretes do país. Foi considerada pela revista Rolling Stone como a nona maior voz brasileira e, pela mesma revista, quinquagésima primeira maior artista brasileira de todos os tempos.
Pesquisadora da música popular brasileira, de seus ritmos e de seu folclore, também viajou para muitos países representando a cultura do Brasil. Clara era conhecedora das músicas, danças e das tradições africanas, se converteu ao candomblé e levou a cultura afro-brasileira para suas canções e vestimentas.
Clara Nunes era Portelense de coração e foi uma das cantoras que mais gravaram canções dos compositores da Portela. Também foi a primeira cantora brasileira a vender mais de 100 mil cópias, derrubando um tabu segundo o qual mulheres não vendiam discos. A cantora vendeu ao todo quatro milhões e quatrocentos mil discos durante toda a sua carreira.
Essa história começou aqui pelo Circuito das Grutas. Mais jovem dos sete filhos do casal Manuel Pereira de Araújo e Amélia Gonçalves Nunes, Clara nasceu em uma família muito humilde
no distrito de Cedro – à época pertencente ao município de Paraopeba que depois virou cidade e emancipado com o nome de Caetanópolis, onde ela viveu até os 15 anos.
Marceneiro na fábrica de tecidos Cedro & Cachoeira, o pai de Clara era conhecido como Mané Serrador e também era violeiro e participante das festas de Folia de Reis. Mas Manuel faleceu de um infarto fulminante em 1944. A mãe entrou em depressão, e faleceu de câncer em 1948. Aos seis anos, Clara, já órfã de pais, foi criada por sua irmã Maria, sua madrinha, a quem carinhosamente chamava de Dindinha, e por seu irmão José, conhecido como Zé Chilau. Clara Nunes participava do coro da Igreja e em 1952, ainda menina, venceu seu primeiro concurso de canto organizado em sua cidade, interpretando “Recuerdos de Ypacaraí”. Dindinha para Clara e seus amigos cariocas e Mariquita para os demais, fundou e dirigiu a Creche Clara Nunes, até seu falecimento em 2017.
Em 1957 se mudou para Belo Horizonte e começou a trabalhar como tecelã em uma fábrica de tecidos durante o dia e à noite estudava o curso normal de formação de professoras. Aos finais de semana, participava dos ensaios do coral da igreja, no bairro Renascença, onde vivia com os irmãos, primos e tios. Conheceu o compositor Jadir Ambrósio que a levou a vários programas de rádio, como “Degraus da Fama”, no qual ela se apresentou com seu nome de batismo, Clara Francisca.
Em 1960, já com o nome de Clara Nunes e ainda trabalhando como tecelã, ela venceu a etapa mineira do concurso “A Voz de Ouro ABC”, com a música “Serenata do Adeus”. A partir daí, começou a cantar na Rádio Inconfidência de Belo Horizonte.
Naquela época, fez sua primeira apresentação na televisão, no programa de Hebe Camargo em Belo Horizonte. Em 1963, ganhou um programa exclusivo na TV Itacolomi, chamado “Clara Nunes Apresenta” e exibido por um ano e meio.
Clara viveu em Belo Horizonte até 1965 quando decidiu se mudar para o Rio de Janeiro.
Passou a apresentar-se em vários programas de televisão, rádio e em escolas de samba.
Neste mesmo ano ela passou num teste como cantora na gravadora Odeon e registrou pela primeira vez a sua voz em um LP e daí não parou mais. Em 1972, firmou-se como cantora de samba com o lançamento do álbum “Clara Clarice Clara” a partir daí vieram “Claridade”, “Canto das Três Raças”, “As forças da Natureza”, “Guerreira”, “Brasil Mestiço” onde fez sucesso com ‘Morena de Angola’ e seguiu gravando, lançando discos e fazendo sucesso.
Em 5 de março de 1983, submeteu-se a uma aparentemente simples cirurgia de varizes, mas acabou tendo uma reação alérgica a um componente do anestésico. Clara sofreu um choque anafilático e permaneceu durante 28 dias internada na UTI no Rio de Janeiro. Na madrugada do sábado de Aleluia de 2 de abril de 1983, a quatro meses de seu 41º aniversário, foi declarada morta.
Desde então Clara Nunes vem recebendo inúmeras homenagens pelo Brasil afora, seja em desfile de escola de samba e também em diversas coletâneas de seus discos.
Em agosto de 2006, a Prefeitura de Caetanópolis lançou o lindíssimo Festival Cultural Clara Nunes, com o objetivo de desenvolver a cultura no município e região, e também resgatar a obra da cantora. O Festival Cultural Clara Nunes faz parte dos eventos culturais da cidade e todo ano é realizado no mês de agosto, mês de nascimento de Clara Nunes.
Circuitando por aí! em Caetanópolis você pode conhecer mais sobre essa “tal mineira que conquistou o mundo” visitando o Memorial Clara Nunes e a Casa de Cultura Clara Nunes, além de se programar para participar do Festival que tem uma extensa programação todos os anos.
* Neste período de pandemia os equipamentos não estão funcionando.
Por Narly Simões
Agradecemos a grande contribuição da Secretária de Desenvolvimento Municipal, Cultura, Turismo e Esportes de Caetanópolis, Marilene Araújo, na revisão e contribuição para esta matéria.