Amanhã, 27 de junho, João faria anos. Dia de aniversário de nascimento, 112 anos, de João Guimarães Rosa. Nosso Guimarães, nascido em Cordisburgo, no Circuito das Grutas e tão presente no mundo inteiro. Ele amava nosso sertão, tanto que o levou para os quatro cantos do planeta. “Minas são muitas. Porém poucos são aqueles que conhecem as mil faces das Gerais.” Dizia ele. E Minas são tantas nas histórias de João Guimarães Rosa que ele criou um vocabulário próprio para nos retratar. Diplomata, novelista, romancista, contista e médico, ele também era muitos. Tantos que nos surpreende a cada vez que abrimos suas obras para ler, reler e reler…
São nelas que encontramos os casos do nosso sertão, da nossa gente, da nossa história, da natureza que nos cerca e da nossa inconfundível culinária. Ele foi criado em Cordisburgo, na casa que hoje abriga o “Museu Casa Guimarães Rosa” à beira do fogão a lenha, cercado pelos quitutes e sabores da cozinha da mãe, Chiquitinha e das outras cozinheiras da família que guardavam os segredos da tradicional culinária de Minas. Alí, na venda do pai, seu Fulô, na frente da casa e que hoje está representada no Museu, João convivia diariamente na sua meninice, com as farinhas, carne de sol, carne de lata, especiarias do sertão e cereais vendidos no quilo.
Conta-se que João não ficou muito tempo no Colégio Santo Antônio, onde foi cursar o Ensino Secundário em São João Del Rey porque não suportava a comida de lá e que, já no Itamaraty, costumava guardar em seu gabinete para saborear a miúde, geleia de mocotó e doce de leite. Não perdia a oportunidade, em suas cartas para os parentes de Cordisburgo, de pedir que lhe fossem enviados quitutes e guloseimas da terra.
Antes de escrever Grande Sertão Veredas, Guimarães Rosa viajou pelo interior de nossas Minas Gerais no lombo da mula Balalaika. Ele acompanhou oito vaqueiros que levaram 300 cabeça de gados, percorrendo em 10 dias os 240 quilômetros que separam Três Marias de Araçaí, cidade vizinha a Cordisburgo. Durante todo o percurso anotava em sua caderneta amarrada ao pescoço tudo o que via e ouvia – e isso incluía as hábitos alimentares de seus parceiros de viagem e dos lugares por onde passavam. Hábitos esses que estão, para um olhar mais atento, recheando as quase 500 páginas de sua obra.
“A saudade minha maior era de uma comidinha guisada: um frango com quiabo e abóbora d´água e caldo, um refogado de caruru com ofa de angu. Senti padecida falta do São Gregório – bem que minha vidinha lá era mestra. Diadorim notou meus males. Me disse consolo: – ‘Riobaldo, tem tempos melhores. Por ora, estamos acuados em buraco…’ Assistir com Diadorim, e ouvir uma palavrinha dele, me abastava aninhado”. Diadorim, em Grande Sertão Veredas.
E foi exatamente assim que João Guimarães Rosa descreveu certa vez, sua preferência pelo frango com quiabo:
“Nossos, bem nossos, são o doce de leite e o desfiado de carne seca. Meu – perdoem-me – é aquele prato mineiro verdadeiramente principal. Guisado de frango com quiabos e abóbora-d’água (ad libitum o jiló) e angu, prato em aquarela, deslizando viscoso como a vida mesma, mas pingante de pimenta”.
Para nós mineiros e não seria diferente aqui pelas bandas do Circuito das Grutas, gostamos mesmo é de comemorar aniversário com mesa farta, rodeados de amigos, causos e aquele saboroso Frango com Quiabo e Angu. Com o aniversário de nosso ilustre João Guimarães Rosa não seria diferente: Te convidamos embarcar conosco nessa viagem pela culinária do sertão, anotar a receita, separar os ingredientes, escolher aquela moda de viola especial, sentar com quem estiver em casa com você nesses tempos e celebrar Guimarães, a vida, nossa mineiridade e a esperança de novos tempos que nos esperam logo alí, adiante.
RECEITA DO FRANGO COM QUIABO
INGREDIENTES: 1 quilo de quiabo, 1 frango inteiro, cortado em pedaços, 5 dentes de alho amassados, 1 cebola grande bem pitadinha, 1 xícara (chá) de óleo, 1 colher (sobremesa) de urucum, pimenta a gosto, sal a gosto.
MODO DE FAZER: Tempere o frango com o alho amassados, sal, pimenta. Em uma panela, aqueça duas colheres (sopa) de óleo deixe aquecer e coloque o frango. Deixe fritar bem e acrescente o urucum e a cebola. Deixe fritar mais um pouco e acrescente a água fervendo, cobrindo todo o frango. Quando o frango estiver bem macio, coloque o quiabo picado por cima, mais um pouco de água fervendo, tampe a panela e não mexa. Quando o frango estiver macio, sirva com arroz, feijão, angu e pimenta. Se preferir, sirva também com abóbora refogada!
Com sabor de festa, comemoração e viagem pelo sertão, por enquanto, relembre nosso João Guimarães Rosa em casa. Quando tudo isso passar, venha conhecer o Museu Casa Guimarães Rosa, Cordisburgo e todas as belezas que ele descreveu, ao vivo!
Por Narly Simões
Fontes: